UM CONTO SOBRE PUERPÉRIO
Uma jovem moça, com seus trinta e poucos anos, encontra-se presa em um quarto de hospital, mas ela não está só. Seu filho recém-nascido encontra-se calmo e sereno no calor de seus braços, ele está envolto por uma manta branca bordada com mini rosas coloridas feitas em ponto de filó e meias vermelhas.
Enquanto ele dorme tranquilo, a jovem está inquieta, tentando disfarçar o medo que a toma por dentro ao encarar a única porta daquele cômodo.
De repente, sem ao menos tocá-la, a porta se abre, e mesmo sem arredar os pés do fundo do quarto, eles ultrapassam o misterioso portal, que como mágica desaparece assim que a passagem é concluída. Voltar era mesmo impossível.
A jovem depara-se com um labirinto de proporções desconhecidas, assim como desconhecidas eram também as sensações e sentimentos que se embaralham em seu ser. Sem entender nada ela chora, chora muito, chora tanto que seus soluços acabam por ajudar a ninar seu bebê.
Aos poucos ela se recompõe e cria coragem para dar o primeiro passo rumo ao novo, mas ao iniciar a caminhada, várias pessoas começam a surgir e vir em sua direção. Mesmo sem fazer ao menos uma pergunta sequer, ela recebe inúmeras “respostas”:
— Mãe! Siga pela direita, lá encontrará uma ferramenta ótima que tornará seu caminho muito mais fácil por aqui, posso te garantir, para mim foi maravilhoso! – disse uma jovem senhora, de mãos dadas com um menino vidrado na tela do celular que estava em suas mãos.
— Viu. Vá pela esquerda! Lá tem um manual com o passo a passo para seus dias e noites neste labirinto serem mais tranquilos. Se surpreenderá com os resultados. – disse outra mulher empurrando um carrinho com uma bebê que dormia tranquila sugando uma chupeta.
Confusa com tudo aquilo, a jovem senta na primeira pedra que aparece à sua frente para organizar os pensamentos e acalmar seu menino, que agora chora; após amamentá-lo, ela respira fundo, levanta e segue pelo caminho decidido: em frente.
Depois de muito caminhar, percebe que a noite se aproxima e vai em busca de um abrigo. Mais adiante avista uma pequena pensão, onde uma velha senhora providencia um quarto, comida e todo o necessário para atender mãe e bebê.
Era perfeito. Um quarto pequeno, porém acolhedor, onde além de uma cama, tinha também uma cadeira de balanço embaixo de uma grande janela.
Acomodada, ela senta-se, abraça seu filho e olha para o céu, percebe a lua. Ela não estava mais cheia, como lembrava estar nos minutos antes de se ver trancada naquele quarto, ela parecia ter minguado, porém, mesmo com menos brilho, a jovem pode perceber um doce cintilar de sua luz sinalizando um determinado caminho no labirinto.
Era um sinal, só podia ser. Ela não pensou duas vezes e no dia seguinte abraçou forte seu pequenino e seguiu na direção indicada pela luz da lua.
Ao longo da caminhada depara-se com muitas pedras, mas com muitas flores também e isso fez com que ela começasse a sentir-se cada vez mais feliz e confiante na jornada. Até se dar conta de que ao anoitecer a estrada terminava na mesma pensão que ela havia estado.
Sem outra alternativa, mãe e bebê ficam lá por mais uma noite, porém isso foi se repetindo ao final de muitos e muitos dias. Sem entender, a jovem procura pela senhora, dona da pensão, para ver se poderia lhe ajudar de alguma forma a encontrar a saída daquele labirinto. E ela carinhosamente lhe diz:
— Minha filha, depois que o portal é atravessado, precisamos compreender que nada voltará a ser como antes. Este novo caminho só é seu e de seu filho, precisa encontrar sua melhor forma de percorrê-lo.
— Mas não entendo! Já tentei mudar o trajeto por várias vezes, e sempre retorno a esta pensão. Preciso seguir adiante, preciso encontrar a saída! – Exclamou a jovem.
— Ah minha menina, talvez a saída não seja uma opção. – Responde a senhora que com um doce abraço despede-se.
A jovem ficou ainda mais confusa, como poderia não haver uma saída?
Ela retorna aos seus aposentos e mais uma vez olha para a lua, procurando o cintilar de sua luz direcionado para algum caminho, mas se surpreende ao deparar-se com um ínfimo filete de luz, que nada iluminava. Era noite de lua nova.
A jovem, desolada, se recolhe, senta para amamentar seu filho e tenta encaixar as peças deste quebra-cabeça, mas se surpreende com uma forte sugada em seu peito e se depara com olhinhos cheios de ternura fixados em sua direção, parecendo ter algo a dizer. E foi, então, hipnotizada pela doce dança daqueles longos cílios que esperavam o sono chegar que ela pôde enfim compreender.
Quando optou por seguir em frente, logo no começo da jornada, ouviu a voz da sua intuição, e nas noites seguintes as fases da lua que observava no céu, apenas reforçaram que a intuição era a luz que deveria guiá-la por toda a ciclicidade de seu trajeto. E a lua nova que agora via no céu, clamava de fato pelo seu recolhimento, vislumbrando que ela se permitisse olhar para seu interior e encontrar a resposta pela qual buscava.
Após um longo suspiro de alívio, ela pode enfim compreender. Estava trilhando sua jornada da construção do ser mãe. De fato, não se tratava de buscar uma saída do labirinto, até porque a saída não existe; mas sim, de ressignificar o trajeto para tornar mais leve o seu caminhar de forma a contemplar a beleza e os aprendizados que esta nova vida poderia lhe oferecer.
No dia seguinte, a jovem acolhe seu filho nos braços o beija com carinho, respira fundo e diz:
— Vamos meu bem, muitos desafios nos esperam lá fora, mas não nos esqueçamos que para isso temos todo o tempo do mundo. Vamos seguir esta jornada juntos em nosso próprio tempo, temos muito a aprender um com o outro.
Autora: Camila Pasetto
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