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Meu refúgio, minha cura, minha voz


Quando acreditei que meu puerpério havia terminado, fui convidada a vivê-lo mais uma vez, porém agora, não sozinha. Fomos convocados a recolher-se, pois, estávamos prestes a viver uma pandemia.


O mundo em puerpério, quem poderia imaginar. O desacelerar das rotinas caóticas e o convite a olhar para as nossas próprias sombras; a angústia proveniente do isolamento, incertezas e medo em torno da nova realidade, a sensação de vida paralisada, rotina bagunçada e a restrição ao ambiente doméstico.


Completamente isolada em casa com meu filho de 4 meses, procurei mudar o foco. Deixei de acompanhar os tristes noticiários, para procurar na internet conteúdos que pudessem contribuir com minha maternidade. Muito foi válido, porém, deparei-me com realidades perfeitas que não condiziam com a minha e não tardou para eu ser assombrada pelas comparações.


Demorei compreender que minhas escolhas não poderiam ser pesos para mim, eu precisava deixar minha maternidade mais leve, pelo bem de todos, em especial para meu próprio bem. Foi aí que entendi que precisaria aceitar e encarar este novo puerpério buscando alternativas que faziam sentido.


Os planos de voltar a trabalhar fora de casa precisaram ser adiados. Foquei no privilégio de estar exclusivamente com meu filho, mas por trás do sentimento de gratidão existia uma crise de identidade. Eu precisava também me reinventar.


E foi em um momento aleatório que uma voz dentro de mim, falou “Escreva!” e no mesmo instante comecei a rascunhar aquilo que estava mais vivo em meus pensamentos, meu relato de parto e fazendo-o decidi de imediato que iria transformá-lo em um livro.


Do sonho em ser mãe, o caminho percorrido na gestação, o relato de parto propriamente dito, até nossa chegada ao lar. Este seria o presente de um ano para meu filho, um livro sobre o início de sua história.


O momento de escrita tornou-se um refúgio. Ali concentrei minhas forças, angústias e novas expectativas. Ao terminá-lo e dar-me conta do que havia feito, perguntei-me se outras mulheres não poderiam se beneficiar de alguma forma acessando este relato de experiência.


Então surgiu um novo e grande motivador. Tratei de detalhá-lo ainda mais, de forma que as leitoras fossem ao encontro de conteúdos relevantes que as levassem a tomar decisões mais assertivas dentro de suas realidades. Decidi, por fim, colocar este livro para além do meu círculo familiar.


Houve receio, medo da exposição, crítica, mas terminei por ouvi uma frase que dizia assim “Quando faz algo por você mesmo também faz para o mundo, pois as pessoas ao seu redor têm acesso a sua transformação e podem se transformar também.” Não sei quantas pessoas irei atingir com este meu relato, mas torço para que ele chegue a pessoas que o recebam de peito aberto, deixando-se envolver pelas minhas transformações no trajeto de gestar e parir uma vida.


Além do presente especial que meu filho recebeu; do fato de já receber depoimentos de transformação de mulheres com a leitura do livro; esta obra ressignificou minha vida. A escrita foi para além do meu refúgio, ela curou minha alma e hoje em dia através de meus textos mostro um pouco de minha arte e muito da minha voz.


Texto publicado pela revista @maesqueescrevem



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